(imagem da web)
Ele usava uma camisa cinza manchada e calça comprida . Batia no bolso, revirava as gavetas procurando os óculos antes de encarar o filho que esperava. A casa cheirava remédio e azedo que o moço tentava não aspirar. O velho sentou-se, colocou os óculos e fitou o filho enfim, desconcertado pela falta do costume. Era um homem muito alto, levemente encurvado para frente, de cabelos brancos brilhantes. Podia-se dizer que no passado,foi um homem bonito, mais bonito que o filho até.
O rapaz tentou quebrar o gelo, elogiando a vizinhança boa,a calma do bairro o que motivou o pai a contar as vantagens de viver ali naquele cômodo abafado. Exaltou a alegria da solidão. Completou que sentia sim saudade dos filhos, que gostaria de ver os netos mais vezes. Houve um silêncio difícil. Veio um café requentado. A xícara tinha cheiro de barata, o filho tentou disfarçar, mas evitou beber. Ficaram um tempo sem assunto. O rapaz sacou o envelope do convite. Explicou que ele seria muito bem vindo na festa... Que a noiva não viera pois tivera um compromisso da faculdade.... O padastro ia entrar com a mãe dele, quis frisar sem necessidade. - O velho já sabia!
O pai não deu certeza de ir, a coluna o pegava sempre desprevenido. O filho não contestou, estava acostumado.
Agora ele tinha que ir!
O pai o acompanhou até a porta. Se olharam desta vez de uma forma generosa. Abraçaram-se. O filho achou que agora o pai tinha o mesmo cheiro de uma biblioteca velha, o mesmo aconchego silencioso, a marca do esquecimento, da espera e da necessidade...
(Mariani Lima)
(Mariani Lima)