domingo, 15 de dezembro de 2013

Poemas


Palavras endurecidas virando pedra 
saem das palmas do poeta
Saem estrelas e fogem para o céu
escapolem pétalas
lua
mel..


(Mariani Lima)



Imagem da web

Partida




Hoje eu solto a  corda do meu barco
Vejo-o  deslizar
sobre a lâmina azul enluarada
Sem pressa...bem devagar

(Mariani Lima)

terça-feira, 10 de dezembro de 2013

A Moça

A Moça perdeu o apetite.
O avô reclama do  perfume -Tem Rinite!
A mãe sabe a verdade
Diz que é sensação, 
Mas é saudade!!

E a menina ? 
Alheia a tudo!

O pai  observa mudo.


(Mariani Lima)

quarta-feira, 23 de outubro de 2013

O Convite


(imagem da web)
Ele usava uma camisa cinza  manchada e calça comprida . Batia no bolso, revirava as gavetas procurando os óculos  antes de encarar o filho que esperava. A casa cheirava remédio e azedo que o moço tentava não aspirar. O velho sentou-se, colocou os óculos e fitou o filho enfim,  desconcertado pela falta do costume. Era um homem muito alto, levemente encurvado para frente, de cabelos brancos brilhantes.  Podia-se dizer que no passado,foi  um homem bonito, mais bonito  que o filho até.
O rapaz tentou quebrar o gelo, elogiando a vizinhança boa,a calma do bairro o que motivou o pai a contar as vantagens de viver ali naquele cômodo abafado. Exaltou a alegria da solidão. Completou que sentia sim saudade dos filhos, que gostaria de ver os netos mais vezes. Houve um silêncio difícil. Veio um café requentado. A xícara tinha cheiro de barata, o filho tentou disfarçar, mas evitou beber. Ficaram um tempo  sem assunto. O rapaz sacou o envelope do convite. Explicou que ele seria muito bem vindo na festa... Que a noiva não viera pois tivera um compromisso da faculdade....  O padastro ia entrar com a mãe dele, quis frisar sem necessidade. - O velho já sabia!
O pai não deu certeza de ir, a coluna o pegava sempre  desprevenido. O filho não contestou, estava acostumado.
Agora ele tinha que ir! 
O pai o acompanhou até a porta. Se olharam desta vez de uma forma generosa. Abraçaram-se. O filho achou que agora o pai  tinha o mesmo cheiro de uma biblioteca velha, o mesmo aconchego silencioso, a marca do esquecimento, da espera e da necessidade...

(Mariani Lima)

terça-feira, 24 de setembro de 2013

Estrada Branca



Uma parte decidi revelar
A outra vou guardar
Sabe aquela estrada branca
Ladeada de árvores verdinhas?
Sentei-me para esperar.
Minha janela aberta
De frente a estrada clarinha
Onde é sempre é luz do dia
E as horas passam no chão,
Não sei quanto tempo esperei.
Contudo não estive enganada
Aprendi que essas estradas brancas
Levam tudo!
Não trazem nada!

(Mariani Lima)

Postagem original:http://godsinn.blogspot.com.br/2012_03_01_archive.html

terça-feira, 17 de setembro de 2013

Tristeza


Uma tristeza parente
Frequentemente vem me visitar
Chegou tem poucos dias...

____Viestes pra ficar?

(Mariani Lima)
 Imagem da Web

segunda-feira, 26 de agosto de 2013

Exigências

Ele trouxe a tarde e os pães
Ela um café e um cafuné
Quiseram mais que tardes e pães.
Deram-se as noites e as manhãs.

(Mariani Lima)

quinta-feira, 22 de agosto de 2013

Sonho

Hoje sonhei contigo e tinhas olhos que não eram os teus
A voz, essa era tua
As palavras tão sonhadas eram minhas em tua boca
Dizia o que eu queria- sentimentos teus
E me enrolava em braços que não reconheço.
Delírios oníricos...
Perdoe-me editar-te assim tão displicentemente.

(Mariani Lima)

( Imagem: Francis Picabia)

quinta-feira, 15 de agosto de 2013

Separados

oreos

Gracinha decidiu que seria advogada, "dessas que ajudam um casal a se separar". Resolveu isso depois que conheceu  uma muito talentosa - a que ajudou na separação dos seus pais.  Por hora, estava entretida com uma lata de biscoitos que pusera entre as pernas.Dedicava-se à tarefa saborosa de separar as abas dos biscoitos recheados. Abria-os cuidadosamente para que não quebrassem  desastrosamente e atrapalhasse a gostosura que era passar a língua na massa branca e gordurosa. Depois do terceiro desconfortável rompimento, estava craque. Abria as bandas e lambia o creme, lançava no prato de plástico a bolacha violada, separada e úmida...

(Mariani Lima)                                                                                                       Imagem da Web

segunda-feira, 12 de agosto de 2013

Eu gosto

Eu gosto de
flores 
fones de ouvido
sol se despedindo
olhar meu  filho dormindo
unhas vermelhas
sapatos baixos
mãos grandes.
ficar sozinha
ler um livro duas vezes
jardins
Rubem Alves
Aprender
Ensinar 
Djavan
ver filme até de manhã
certezas
igrejas antigas
cabelos curtos
e textos de Drummond.

 (Mariani Lima)









terça-feira, 6 de agosto de 2013

Você

Tem olhos de prenúncio
Lábios de ensejo
Voz de anúncio

Mãos  bravas

Passos de ida.
ânsia de retorno.
Não confessa.
Não confirma.

Cheiro de coisa conhecida.
desejada
temida...
Outras Eras...
De onde mesmo?

Teu casaco desbotado
Tua sombra recolhida
Teus lábios de ensejo
Teus passos de ida...

Outra vida?
De onde mesmo?

(Mariani Lima)

sábado, 3 de agosto de 2013

Recantos

Uma mulher tem seus recantos,
labirintos decorados de sorrisos.

E  margens fartas no olhar:
Represas  pra não chorar.

(Mariani Lima)

quinta-feira, 1 de agosto de 2013

Projeção

Uma sombra projetada sob o queixo
Forma oblíqua acima da curva do pescoço
Um triângulo  raso de luz.
Coisa indizível, poética e inquietante.

(Mariani Lima)


terça-feira, 30 de julho de 2013

Tanto Faz.



Tão errada e eu sabia.
E o que eu mais queria era errar mais
Tem  horas  que tanto faz.


(Mariani Lima)



Imagem http://cacoschuvasecurvas.blogspot.com.br

sexta-feira, 12 de julho de 2013

terça-feira, 9 de julho de 2013

segunda-feira, 8 de julho de 2013

Fim de tarde


Filetes  de sol invadem a varanda, ladrilham a rede.
No canto, a sombra d'água rebola na parede.

(Mariani Lima)

Nádia






Nem se  despediu a contento 
da flor que fincou no tempo.

(Mariani Lima)



Imagem da Web

Encanto


(Para meu filho Luiz Guilherme)

Meu mundo
criei quadrado
Uma lua imensa do lado
O sol na nossa frente 
Pra iluminar a gente
                              ...admirando a lua!
Nesse mundo tudo é casa tudo é rua
Você é meu e eu sou sua
E tem flores nos quintais!!
Do meu  jardim para o jardim da casa ao lado
corre um riso prateado
Não tem muro e nem portão

Lá a tristeza tem momento
E alegria é todo tempo 
Só não coube a solidão

Tem o  céu e nuvens feitas de plumas
O mar a borbulhar espumas
.                                                    ...colando estrelas no chão!

Sua Mão




Escorrega pelo dorso sombreado
Na penumbra quente do quarto
Dança completamente nua
Sinuosamente a sua ...
                            mão.
Afoga os dedos
Pousa nos lábios em segredo
Some na escuridão.
Banhada pela luz da rua
Parte estrela e parte lua
Repousa exausta no colchão
E dança...
E sobe...
Desce pela nuca..
A habilidosa sua... 
                           mão.
(Mariani Lima)

Imagem da web

Pé de mágoa


Arranquei de vez o pé de mágoa
Que há muito arvorecia
Cuja sombra quente comprimia nossos ais

Planta antiga
De flor ancestral da minha vida e da tua
Precipitado para a rua
A saudar o cais.

Hoje arranquei seu tronco retorcido
Dei-lhe um novo rumo
Um novo muro
Onde outro não há mais

Plantei pomar garboso
Frondoso
Harmonioso
Bonito demais!

Pra enfeitar a nova remessa.
Pra saudar uma gente sem pressa.
Que passa olhando de quina
Que pára na nossa esquina
Em busca   do que não há mais.

(Mariani Lima)

Que bonito!



Bastou   haver  espaço
Não plantei, nem cuidei
Foi a chuva, eu acho...
Ela nasceu, pra despontar na paisagem
Pra me constranger!
Pequena, linda, frágil e passageira
Singela, tocante, e companheira
Não querias um toque do infinito?
Olha que bonito!

(Mariani Lima)

Girando na imensidão

Deus escondeu as coisas grandes nas pequenas
Escondeu a árvore no grão
Infinito,veio caber em meu coração.

Deu a cada homem a semente da vida.
Fez brotar  uma árvore florida!
Girando na imensidão

Deus pôs no mundo a beleza

Sem dar  aos homens a certeza
De onde vêm
Pra onde vão.


(Mariani Lima)

 Imagem hubble

Versos de Outono

Confraria de Autores

quarta-feira, 3 de julho de 2013

Minha Avó

Minha vó tinha cabelos de india e pés descalços.
Plantava guandu e varria o terrero.
Quando o gato sumia gritava : Quede ele?
Minha vó fazia vassoura de piaçava
Assava batata na fogueira em noite de são João
E teve treze filhos.
E lembro de seus cabelos grisalhos
Que eu pentei, trancei. puxei tentando enfeitar a mulher sem vaidade.
Minha vó era guerreira, meio india, meio branca.
Ela usava foice e plantava cana.
"Dava  de cumê pras galinha" e criava porco.
Minha vó juntava prata em lata de leite
E no final do ano me dava, a lata cheinha de moeda.
Dizia: Prata num serve pra nada.
Ela tava enganada.
Ela gostava de mim.
Eu gostava dela.
Faz tempo que não a encontro em meus sonhos.
Dona Felisbina nunca foi rica
Nem pobre, nem feliz, nem triste.
Era mãe e avó.
Analfabeta e esperta.
Criou os filhos na base da pancada.
Os netos beijava e fazia dengo
Lavou, passou e engomou pra fora
E fazia angú com rapa e chulapa.
Minha avó tinha uma caixa de botões
Costurava e ouvia rádio.
Contava muitas histórias.
Minha vó viu saci, alma penada e mula sem cabeça.
Foi mãe com doze anos.
Dona Felicia era fogo.
Apagava o fogo das filhas com a vassoura.
Ela morou na roça, no morro e em barraco.
Passou fome e teve fartura.
Trabalhava pra comprar mistura.
Nunca foi rica
Nunca foi pobre.
Era mãe e avó.

(Mariani Lima)

Com amor para minha saudosa avó Felisbina (Felícia) de quem tenho boas lembranças sempre.

quinta-feira, 6 de junho de 2013

Legumes e Tragédia

Repostagem
De uns tempos para cá  ela passava o dia com aquele riso  nos lábios,  percebia a mãe com ar de gata velha. Olhou um pouco para a filha e voltou a picar o coentro. 


A menina suspirou profundamente, levou um tapa no braço que apagou imediatamente a chama como por um sopro que viera da janela. 
Voltaram a picar legumes.
A filha entreteve-se com a  roupa  presa à ponta  do arame  que lhe rasgava um pouco. Fazia votos que  o vento soprasse de lado e desprendesse a peça. Queria vê-la voando , tocando a relva queimada , sumindo com o vento que corria arrepiando árvores, fazendo a mãe estalar a língua e correr nervosa para o terreiro (um riso bobo) ... a mãe de cabeça baixa não vira  riso, nem o  vento nem nada.Não fazia votos! Sóbria contemplava legumes e tragédia.

(Mariani Lima)

Imagem da Web

segunda-feira, 3 de junho de 2013

O Ladrão de Pratos

Foi numa manhã que  ele viajou. A vó na porta a limpando as lágrimas no pano, tio Carolino parecia não ligar, só o tocou no ombro. Lucinha chorou, pulou no pescoço, encheu o irmão de beijos, fazendo-o rir de seu alvoroço. Precisavam lembrá-la que tratava-se da ida do irmão e não seu retorno.
  Fiquei escondida no canto, por detrás da avó. Sentia o peito acelerado... uma dificuldade de respirar e um som no ouvido que me fez sentar no braço do sofá. Ele buscou o meu olhar algumas vezes, não na intenção de me arrancar alguma expressão de despedida, pois ele sabia que seria inútil,  mas na intenção de desculpar-se. No fundo ele sabia que eu era quem mais sofria, tanto que já ia descendo as escadas quando voltou e me deitou um beijou na face, tão inesperado que me desconcertou completamente. Depois foi sumindo na névoa da manhã. O tio entrou arrastando o chinelo e já era outro de frente pra caneca de café. Avó foi  "cuidar da vida" e Lucinha deitou no chão com o gato enquanto chupava o dedo. " Uma vergonha uma moça daquele tamanho chupando dedo!" 
Fiquei olhando o vazio como se eu o visse  , ou se esperasse o seu retorno para aquela manhã ainda. Sabia que isso seria cruel para mim. Sabia que a casa haveria de perder a graça. As tardes debaixo do pé de jamelão, as conversas na varanda. E foi mesmo assim que aconteceu. Não havia mais a alegria !
Nos tempos de sua estadia em casa, sempre que ele vinha de fora, eu ia para o quarto da vó e de lá ficava ouvindo suas besteiras e ele falava alto para eu escutar, e eu fingia dormir pra não dar confiança, mas sua presença era a luz da minha existência. 
Teve o dia que chegou a carta: ele dizendo que tinha sido bem recebido na casa do Tio em Belo Horizonte. Que o tio o levara  para a firma. Que a cidade era bonita. Que estava bem. "Que estava bem!" me encheu de revolta. Eu não estava bem! Parecia agora uma caveira. Lucinha me chamava de palito e avó passava a costura nas minhas saias.
Não tardou a segunda carta, efusiva falando da nova vida, das primas mineiras. Cristina era a prima mais bonita. _ Achei que escreveu isso para me atormentar. Igual quando roubava a carne do meu prato no almoço de domingo ou quando escondia minha roupa do banho . 
O tempo passou e fui me acostumando a vida sem sua presença. Voltei a frequentar a varanda e por fim a sentar-me na sombra do pé de jamelão. Voltei até sentar na pedra no fundo do terreno, e foi ali  numa tarde, quando eu não mais esperava, que senti seu beijo de novo em meu rosto.
Veio de mansinho, no seu passo silencioso de ladrão de pratos e me tascou o beijo rapidinho.Tão rápido como a lágrima que me traiu, a lágrima que se desculpou pela frieza da despedida e se aventurou em dizer tudo que eu mesma jamais diria!
"Quem chegar por último é mulher do padre" disse e puxou carreira. Era seu modo de me poupar. Não era à toa que era o meu  favorito. Foi exatamente assim que se apossou da minha alma. E nossas conversas mais profundas sempre se deram dessa forma: sem palavras. 
Um choro de criança me balançava toda, escondia o rosto na mão e uma alegria do tamanho do céu azul se estendeu sobre a minha alma...estava tudo bem, a vida voltara pra mim e o que eu mais queria, meu Deus...era parar de chorar!


(Mariani Lima)